Visitamos o Vigneti Massa, no Piemonte

Depois de nossa passagem pelo Porto, Portugal, nosso próximo destino foi o Piemonte, norte da Itália, terra de alguns dos mais famosos vinhos do mundo, como os Barolo e os Barbaresco.

Nossa primeira visita foi em busca de um caminho diferente. Escolhemos a Vigneti Massa, cujos vinhos ainda não estão no Brasil, para conhecer um espetacular trabalho, realizado pelo seu proprietário, Walter Massa, recuperando a dignidade de uma antiga e esquecida uva branca: Timorasso.

A vinícola foi fundada por esta família em 1879. Atualmente cultivam 30 hectares de vinhedos, localizados nas colinas de Monleale (Colinas de Tortona), 300 metros acima do nível do mar. Além da nativa Timorasso, estão plantadas Barbera, Croatina, Freisa, Nebbiolo, Moscato e Roschi.

Fomos recebidos por Filippo, jovem e muito simpático Enólogo que, junto com seu irmão, faz o trabalho pesado. Depois de um rápido giro pelos vinhedos ao redor da sede, passamos para uma degustação/aula sobre este incrível trabalho que não se resume ao empreendimento dos “Massa”, mas toda uma região que ganhou novas oportunidades.

Walter optou por trabalhar com esta antiga varietal na década de 80 e talvez tenha sido o primeiro a produzir um 100% Timorasso. Foi uma experiência muito boa. Das poucas 500 vinhas encontradas então, hoje são cerca de 430 acres plantados por diversos produtores, inclusive alguns nomes famosos como Vietti e Fontanafredda. Ao todo, a produção atinge 800.000 garrafas/ano.

Os vinhos são classificados como “DOC Colli Tortonese Timorasso”, mas já estão solicitando uma denominação mais abrangente, “Tortona Timorasso” ou apenas “Derthona”, que é o antigo nome da comuna de Tortona.

Além dos excelentes vinhos, esta região é altamente gastronômica produzindo castanhas, trufas, queijos e mel.

Degustamos toda a linha do Timorasso: Piccolo Derthona, Derthona, Sterpi, Montecitório, Costa del Vento e Sentieri.

As diferenças entre cada rótulo estão na origem das uvas, tempos de maceração e de amadurecimento antes do engarrafamento. Nenhum deles passa por madeira.

São vinhos com uma acidez marcante e muito refrescantes. Ideais para um clima tropical como o do Brasil. Muito encorpados, levam a crer que foram macerados com as peles, o que não é verdade. Entretanto, alguns produtores já estão experimentado este caminho.

Um detalhe nos chamou a atenção: tampas de rosca. O Vigneti Massa é um adepto deste tipo de fechamento e tem feito diversas inovações junto com um renomado produtor destas cápsulas metálicas. Uma de suas grandes mudanças é a conexão com tecnologia NFC: basta você usar o seu smartphone no selo sobre a tampa para ter acesso a tidas as informações sobre o vinho.

Um show de tecnologia!

Este é um de nossos motes: tradição e modernidade juntos.

Provamos, ainda, três tintos elaborados com a casta Barbera, todos muito bons: Sentieri, Monleale e Bigolla. Notem que alguns destes ainda usam rolha de cortiça. Mudarão em breve, eram safras mais antigas.

Para saber mais, visitem o site da vinícola: https://vignetimassa.com/

Saúde e bons vinhos!

Essência do Vinho 2024, Porto, Portugal

Esta feira poderia ser chamada de “Um luxo só”, se comparada com a “Simplesmente Vinho”.

Cerca de 400 exibidores, divididos entre produtores, distribuidores, lojas, acessórios, gastronomia etc. Tudo isto distribuído em salões e corredores do luxuoso Palácio da Bolsa, solene edificação em estilo neoclássico, construído em 1842 que, por si só, já é um espetáculo.

Nitidamente dedicada a outro público, outros objetivos e muito portuguesa. Esta exibição é organizada por um grande grupo editorial e empresas de aviação e turismo. Tem edições em Lisboa, na ilha da Madeira e no Porto, que é considerada como a mais importante.

Um selecionado júri escolhe o “TOP 10”, que neste ano foi dominado pelos vinhos do Douro.

O grande vencedor foi o Memórias Alves de Sousa, um lote de diferentes colheitas da década de 2010 (2011, 2012, 2013, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019), que tem por base as vinhas da Gaivosa, Abandonado, Lordelo, Vale da Raposa, Caldas e Oliveirinha, encepamento antigo com médias de idades que, nalguns casos, ultrapassam os cem anos.

Nem conseguimos chegar perto da mesa onde este vinho era servido, tal o acúmulo de pessoas e o pouco espaço oferecido no local. Pena.

Mas, provamos outros excelentes vinhos, como Julia Kemper, Ervideira, Pico Wines, Noval etc.

Aqui, só vinhos e espumantes que seguiam as regras tradicionais de elaboração. Havia pouco espaço para “novidades”. Tudo quase formal e muito elegante.

Notamos uma curiosa tendência: a maioria dos grandes produtores já estão em quase todas as regiões produtoras de Portugal. Alguns com o mesmo nome, outros com diferentes Quintas.

Cada mesa apresentava uma inacreditável variedade de vinhos. Se pedíssemos para provar um branco, por exemplo, perguntavam: “de qual região”. Às vezes, era difícil escolher.

As fotos, a seguir, mostram um pouco deste ambiente que contrastava com o da outra feira.

Os vinhos eram apresentados por agentes comerciais ou belas moçoilas (foto) em vez de um produtor. Os poucos que lá estavam eram “alugados” por autênticos “enochatos” e você não conseguia nem provar um vinho, ou mesmo saber o que estavam demonstrando.

Como dito anteriormente, uma feira para outro público, mais preocupado em “ser visto” do que ver vinhos e, claro, beber um pouco de tudo. Pena …

Como diria um “influencer”, altamente instagramável.

Mas nem tudo foi perdido. Tivemos a oportunidade de provar vinhos excelentes, conhecer novos produtores e regiões, aqueles que os stands estavam vazios, alguns maravilhosos, e fazer mais amigos.

Os ingressos custaram 25,00 €/pax, com direito a uma taça personalizada.

Vários produtores ofereciam brindes, mediante sorteios eletrônicos ou simples cadastro. Gentil, divertido e fáceis de ganhar.

Nesta edição celebravam 20 anos de existência, o que prova o sucesso deste empreendimento.

Que o sucesso continue, mas não ficou aquela vontade de voltar.

Para saber mais, visite o site: Essência do Vinho

Saúde e bons vinhos!

Simplesmente Vinho 2024 – Porto, Portugal

Estamos na cidade do Porto, em Portugal, onde participamos de duas grandes feiras de vinhos. Esta foi a primeira.

A “Simplesmente” se define como “um salão ‘off’, manifestação independente e alternativa que reúne vignerons unidos simplesmente pelo vinho. Vinho que respeita a terra e o terroir, a vinha e as uvas, pessoas e tradições. Ao vinho sincero que simplesmente quer ser vinho bebido, apreciado, juntamos Petiscos, Arte e Música. Tudo para partilhar com os bons amigos. Vocês!”

Sempre homenageiam um país. Nesta edição foi a Georgia, hoje considerada como o berço da vinha e do vinho. Ao todo foram 111 expositores, sendo 11 produtores da Georgia, 12 da vizinha Espanha e o restante de Portugal.

A feira não se resume em apresentar vinhos. Há várias outras atividades associadas, como jantares harmonizados por Chefs renomados e leilões solidários de arte e vinhos. Um espetáculo à parte.

Os ingressos custaram 21,00 €/dia, comprados com antecedência. Na entrada fomos devidamente identificados e recebemos uma taça personalizada e o caprichado catálogo. A partir daí, dois salões repletos de vinhos para provar e gente muito interessante para conversar.

Dentro deste espírito, fomos ao encontro de um amigo que não encontrávamos desde 2014, Álvaro Martinho, produtor do Mafarrico, Maquia e outros vinhos.

O reencontro foi muito divertido. Álvaro tem sempre ótimas histórias e lembranças para nos contar, além de deliciosos vinhos.

A feira estava instalada nos salões da antiga Alfandega do Porto, na Ribeira, hoje um centro de convenções. A estrutura, apesar de despojada, era muito confortável e espaçosa, com ótima circulação entre os exibidores.

Cada espaço era demarcado por uma simpática barrica, onde os vinhos eram expostos.

Simplesmente impossível citar todos, ou mesmo os que provamos. Experimentamos desde vinhos clássicos até mirabolantes experimentos (deliciosos) que mesclavam técnicas como as do Jerez para produzir outros tipos de vinhos. Vinhas velhas, Biodinâmicos, Orgânicos, Pet-Nats inacreditáveis, enfim, um pouco de tudo.

Uma feira para ser curtida vagarosamente. Todos os produtores, que abordamos, se esmeraram nas explicações, o que não só nos surpreendeu como tivemos a oportunidade de aprender muito.

Pena que só tínhamos um dia para esta visita. Certamente que, numa próxima ocasião, dedicaremos mais tempo a esta excepcional exibição.

Para saber mais, visitem o site: Simplesmente Vinho

Saúde e bons vinhos!

Como começar no mundo do vinho?

Existem várias respostas para esta pergunta, bem comum, aliás. A mais óbvia seria se inscrever num curso ou oficina sobre o tema. Há vantagens e desvantagens nesta sugestão: cursos são genéricos e abrangentes e os instrutores nem sempre podem se dedicar a um aluno somente.

Existem outros caminhos que podem ser seguidos. Um deles é muito interessante e consiste em associarmos os sabores aos quais estamos acostumados, por exemplo, café, cerveja, outras bebidas alcoólicas, com vinhos que nos transmitam sensações similares.

A mais popular bebida brasileira é um bom começo. Partindo de algumas formas básicas de preparar um cafezinho, podemos explorar diversas possibilidades. Para começar, responda esta questão básica:

Qual a sua xícara preferida?

Se for um belo e encorpado expresso, a nossa indicação são vinhos bem encorpados como um Cabernet Sauvignon ou um Malbec de primeira linha.

Vamos deixar claro uma coisa: não são sabores iguais, embora seja possível identificar notas de café num vinho que passou por madeira. O que vai tornar esta “semelhança” interessante é o peso da bebida na boca, no nosso jargão, o corpo.

Se a sua preferência for uma das mil variações do nosso café com leite, capuccino, flat White, latte etc., o caminho serão os brancos leves, como um Chardonnay que não foi barricado. Para os que preferem um “pingado”, basta seguir a trilha dos brancos que passaram por conversão malolática, deixando aquelas deliciosas sensações cremosas, como as de laticínios,  em evidência.

Para os aficionados pelas cervejas e até mesmo a turma dos refrigerantes, o caminho é o dos frisantes e espumantes. Se quiser ficar dentro da vibe mais recente, não deixem de experimentar um Pet-Nat.

Para alguém da turma que aprecia coquetéis diversos, precisamos de mais informações: qual o estilo que mais lhe agrada.

Misturas mais secas e com notas cítricas, as chances de um Sauvignon Blanc cair no seu gosto é enorme. Ou, quem sabe, um Alvarinho ou um Loureiro, tradicionais vinhos verdes da terrinha, não sejam uma boa escolha?

Se o coquetel for mais adocicado, o ideal seria experimentar um rosado ou o tradicional Pinot Noir. Se for o caso, o Beaujolais Nouveau pode ser bem interessante, mas é um vinho de temporada.

Por último, se você não se encaixou em nenhuma destas categorias, ainda assim temos uma indicação: Pinot Grigio. Um vinho leve, com fama indevida de ser pouco aromático e saboroso, não compartilhada com sua contraparte francesa, o Pinot Gris. Com baixo teor alcoólico e corpo leve é uma ótima primeira experiência.

O que acontece se uma desta opções servir?

A primeira atitude é um conselho que sempre passamos neste blog: anote tudo – nome do vinho, a/as uvas, o produtor e a região. Com estes dados em mãos, na próxima vez que for a um mercado ou loja de vinhos, peça ajuda ao Sommelier para encontrar vinhos semelhantes.

Teste e continue testando e nunca se conforme com a sua “zona de conforto”. A grande diversão deste mundo dos vinhos é encontrar novos caminhos, sempre.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS: imagem de pch.vector no Freepik

Como identificar um vinho estragado

Esta é uma pergunta constante na vida de apreciadores de vinhos. Quem já não passou por uma situação semelhante: recebemos uma velha garrafa de presente, provavelmente guardada pelo avô ou pai de um amigo.

O rótulo já se despedaçou, deixando poucas informações disponíveis, há poeira e mofo por todos os lados e outros sinais de que algo pode estar muito errado. Como ter certeza?

Dois caminhos são possíveis, o primeiro é um extenso e cuidadoso exame visual, antes de sacar a rolha. O outro será provar este vinho, caso tenha sido aprovado nos primeiros passos.

Antes de qualquer coisa, façam uma higienização da toda a garrafa, preservando, ao máximo, qualquer informação que possa se obter, seja do que sobrou do rótulo, ou da cápsula que protege a rolha: Nome do vinho, safra, vinícola e até mesmo o importador, se for o caso.

Em seguida vamos colocar a garrafa contra uma luz bem forte e tentar enxergar o conteúdo. Isto vale para tintos e brancos. Líquidos opacos, sólidos em suspensão, nível baixo no gargalo (ullage), rolha ligeiramente alta (vejam foto) e até vazamentos são indicadores de que o vinho pode estar ruim.

Há exceções. Uma clássica são os vinhos de guarda, como os Barolos, os Brunellos, os de Bordeaux e alguns outros. Foram elaborados para serem guardados e apreciados após um longo período de repouso, 10 a 20 anos …

Tudo vai mudar num vinho como estes: a cor fica mais opaca, haverá sólidos em suspensão e o nível de líquido no gargalo pode ficar ligeiramente mais baixo. Neste caso, tudo ainda dentro do esperado. A dúvida só será desfeita no momento da prova.

Já se estes problemas aparecerem num vinho que foi elaborado para consumo imediato, é problema na certa. Estes produtos não foram pensados para serem adegados por muito tempo, 1 ou 2 anos no máximo. Para fecharem estas garrafas, rolhas de qualidade inferior são utilizadas, em oposição às de primeira qualidade usadas nos grandes vinhos.

O grande inimigo, de qualquer vinho, antes de ser aberto, é a entrada de ar falsa que pode oxidar ou avinagrar a bebida. Uma rolha ruim também pode contaminar um vinho com TCA (tricloroanisol), que apresenta um característico olor de papelão molhado. Em francês, “vin bouchoné”.

Um último indicador a ser observado é a presença de bolhas num vinho tranquilo. Indica que houve uma segunda e indesejável fermentação. Provavelmente as condições de higiene da cantina que o elaborou não eram as melhores. Descartem.

A segunda parte deste exame implica na abertura da garrafa. Neste momento, qualquer aroma estranho significa que o vinho deve ser descartado: mofo, vinagre, fósforo queimado, aromas de estábulos, cheiro de madeira muito forte, odores adocicados e fora de contexto, entre outros.

Uma pequena quantidade deve ser servida numa taça para novo exame visual: as cores devem ter algum brilho, mesmo em vinhos muito velhos. Coloração muito puxada para o atijolado, nos tintos, ou âmbar, nos brancos, podem indicar que o vinho chegou no fim de sua vida útil.

Provar este vinho é a última etapa. Mesmo com estes defeitos, não é algo que vá nos prejudicar. Apenas os sabores serão muito ruins. Por segurança, provem um pequeno gole, deixem passear pela boca e descartem, sem engolir.

O que esperar?

Eis uma pequena lista de possíveis sabores:

Azedo, como num vinagre; verniz de unha; muito madeirado ou caramelizado; picante como raiz forte.

Em condições normais, estes vinhos são candidatos a serem descartados. Eventualmente podem ser usados para temperar carnes, se o sabor não for muito desagradável.

Outra forma de usá-los é abrir uma garrafa boa e fazer uma comparação direta. Muito instrutivo e ótima forma de treinar nossos sentidos.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Imagem de mrsiraphol no Freepik

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